As minhas corridas na estrada

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Correr é um NOJO!!

....ou aquelas coisas que todos fazemos mas que não gostamos de admitir.

Considero-me um gajo asseadinho. Ando limpinho, tomo banho todos os dias, faço a barba e lavo os dentes 3 ou 4 vezes ao dia. Tenho gosto que a minha casa esteja sempre limpa e no geral sou organizado. Sou, é verdade. Mas isto muda tudo quando visto o equipamento para correr. Aí, senhoras e senhores, perco as maneiras todas! Não, nem é bem isto, aí torno-me um nojento!!

Começa com o equipamento em si. Como corro todos os dias sujo muito equipamento, mas visto que não posso fazer uma máquina de lavar cada vez que suo uma camisolinha, este vai-se amontoando no cesto da roupa suja. De vez em quando faltam-me os calções ou calças para correr. Ah, está para lavar? Eia cum caraças...dou por mim a remexer no cesto da roupa suja. Olha, visto na mesma sujas que ninguém nota! Escusado será dizer que roupa suada armazenada durante 3 ou 4 dias acentuam um certo odor característico, o chamado efeito "animal-morto-há-15-dias". Será que isto me demove? Não, porque sou nojento. Visto na mesma e ala que se faz tarde.

Depois há o cuspir para o chão. Ponto prévio: as pessoas que cospem para o chão na rua não merecem o titulo de Ser-Humano. É mau de mais, um nojo! A não ser que estejam de calções e t-shirt a correr... É que não há nada a fazer, eventualmente vai ter que sair! Gosto especialmente de cuspir quando vou a correr a favor do vento. Posso cuspir para a frente à vontade e admirar a trajectória perfeita do projéctil. Já cuspir contra o vento requer alguma técnica, primeiro olhar por cima do ombro, verificar que não vem ninguém e, tau, lá vai disto. Quando o vento é muito forte há o perigo de ficar logo colada à bochecha, pescoço ou ombros. No problem, limpa-se com a camisola!

O assoar para o chão é um processo que alia a componente técnico-táctica a uma nota artística, como diria o JJ. Não é tão frequente como o cuspo, mas tem que ser feito! E não estou a falar daquele assoar para o chão gracioso, à Cristiano Ronaldo, que antes dos livres com uma mão na cintura e outra no nariz, em concha, desvia ligeiramente a cabeça e manda o ranho para o chão. Não não, nós estamos a correr, há movimento, há vento, há atrapalhação! A regra básica é assoar a narina direita para o lado esquerdo, e vice-versa. Podemos fazer uma tentativa de desviar o ranho do corpo, inclinando a cabeça para a frente enquanto corremos, mas sejamos francos, há uma probabilidade de cerca de 80% de ele ficar é logo algures no nosso equipamento. O melhor é aceitar isso e deixar os malabarismos e contorcionismos que ainda caímos ou torcemos um pé. Um bocadinho de ranhoca na t-shirt nunca fez mal a ninguém!

Urinar, ... não, chamemos as coisas pelos nomes: mijar. Mijar na rua é outra coisa que temos que aceitar se queremos correr. É feio, muito feio, horrível até! Mas correr com a bexiga cheia também, o que é que se há-de fazer... Corro muito no campo, e aí mijo em todo o lado. Mijar na rua não tem grande ciência, é só encontrar o local perfeito e a iluminação ideal. O melhor é encontrar um terreno vazio ou uns arbustos densos, o vento e movimento não são problema porque estamos parados. Nas provas atinge-se outro nível. Não sei se é da ansiedade, do nervosismo ou por estarmos entre nojentos iguais a nós, mas acontecem verdadeiras convenções de mijo!  

Os problemas intestinais estão entre as maiores razões de desconforto para um corredor. Quem é que gosta de correr com dores de barriga? Às vezes é mesmo inevitável, temos que soltar algum vapor para aliviar a pressão, quem é como quem diz, peidarmo-nos. O peido corrido é um assunto delicado e tem uma característica que toda a gente que corre sabe: nunca, mas nunca é silencioso. Confesso que nesta área ainda tenho algum pudor, tento efectuar a operação apenas quando tenho a certeza que ninguém ouve, ou quando está a passar um camião. O truque é aceitar o peido, não pensem demasiado nisso. Soltem o nojento que há em vocês!

Como gajo asseadinho que penso ser, a limpeza de uma casa de banho é muito importante para mim. É verdade, gosto de uma casa de banho limpa e bem cheirosa. Quem não gosta? Mas depois visto o equipamento... E agora?! Bem, já que a minha imagem desceu a níveis MUITO baixos, e estamos numa de confissões, aproveito para fazer aqui uma última:


Eu, Filipe Honório Torres, por variadas e diversas vezes, já caguei no mato!




Obrigado e boa noite!


domingo, 23 de fevereiro de 2014

XXX Maraton de Sevilla - 5ª a Fundo!

E pronto. Três meses de treino e mentalização, três meses de planeamento e suposições, confiança e descrença. Culminou tudo na pista de tartan do Estádio Olimpico la Cartuja, em Sevilla. Centenas de pessoas na bancada, um estadio monumental, musica, um speaker a debitar frases em modo épico, tudo conjugado para tornar aqueles 195m os mais espetaculares que já corri! Mas já lá chegamos a essa parte, uma coisa de cada vez..


A Maratona começou cedo, no sábado ainda. Por volta das 11 da manhã lá estava eu, a Sara e a Mel na FIBES para a feira da maratona. O ambiente já fervilhava e eram às centenas as pessoas que lá andavam. Já aqui se notava que haviam portugueses por todo o lado! Quanto à feira em si, não estava nada por aí além, em comparação com outras que tenho visto era muito mais pequena que a de Barcelona, maior que a do Porto e muito maior que a de Lisboa (a antiga, no estádio 1º de Maio, ainda não fui à nova maratona de Lisboa). A que mais se comparava era a de Roterdão. 

That's how we roll! (in Sevilla)

Depois de levantado o dorsal (sem problemas) e o saco do corredor (novamente sem problemas) era altura de ver os stands e comprar gel para a maratona. Sim, comprar gel! O meu gel tinha acabado à umas semanas e tive preguiça de ir comprar mais à Sportzone, confiante que havia lá da minha marca, pois claro! Nop. Não havia. E assim começou a odisseia do gel.

ERRO nº 1 - Não  levar gel para a maratona
ERRO nº 2 - Utilizar gel numa maratona sem estar previamente testado em treino.

Lá comprei o gel duma marca qualquer e seguimos para o almoço. O plano era ir à pasta party, mas só dava para ir ao turno dali a hora e meia, e a mai nova não é lá muito de fazer sala e esperar, fomos a um restaurante perto da feira, muito bom e barato por sinal.


E o que foi o almoço? Pasta pois com certeza!

Barriguinha cheia era altura de rumar ao Hotel. Ficamos no Tryp Macarena, um dos hotéis que tinha parceria com a organização da maratona. As vantagens eram late check out (o que nem foi muito útil porque acabamos por ficar mais uma noite) e pequeno almoço a partir das 6 da manhã, além disso era muito perto do estádio e a organização preparou um transporte grátis até à partida. Perfeito, portanto. 

Assim que começo a organizar as coisas para o dia seguinte....

ERRO nº3 - Não trazer a bolsa de levar à cintura para transportar o gel.

Ok, no problem, não era isto que me ia afetar, levo os geis na mãos, que se lixe! Vamos mas é jantar e não se pensa mais nisto. O jantar foi no hotel, que preparou um menu especial para participantes na maratona. Era um buffet espetacular muito variado, mas podiam ter só preparado um prato, tal era a procura! Vejam lá se adivinham qual... Havia fila para a massa! ahah

Todos nós já lemos historias da ansiedade que sentimos na noite antes da maratona, e como isso impede um dos fundamentos para uma boa prova, que é dormir bem na noite anterior. Das 5 maratonas que fiz nunca tinha estado tão tranquilo nas semanas que a antecederam. Nunca me senti ansioso ou stressado, nem sequer quando já estava em Servilha e na feira.... Pelos vistos estava tudo a acumular para rebentar à noite! Aaaah como eu dormi mal! Se tivesse a fita dos batimentos cardíacos devia dar uma media de uns 120 bpm. Voltas e mais voltas, calor, frio, irritação... enfim, tudo somado equivaleu a 4 horas de sono mal dormidas! Mas eram 6 da manhã e o despertador já tocava, está na hora, vamos a isso! Banhinho tomado (eu sei, é uma parvoíce, mas fazer a barba e tomar banho antes das provas ajuda-me a despertar a mente, parece que vou trabalhar), pequeno almoço da praxe, equipamento vestido, beijinho de despedida às meninas, e SIGA!!! Às 8 da manhã vou em passo apressado para apanhar o autocarro da organização, entro, sento-me e relaxo. Olho para os outros corredores e os seus equipamentos. Tudo com os pulsometros, perneiras, chapéu, geis......

OS GEIS!!!!

ERRO nº4 - não levar geis para a maratona.

Porra! Qué estúpido o miudo!!! E agora? Sair do autocarro e ir ao quarto a correr?? Naaaaaah, isso dá uma trabalheira e isto ainda se mete a caminho e depois chego atrasado, com certeza vai haver gel nos abastecimentos!

ERRO nº5 - assumir que há gel quando nem se estudou os abastecimentos. É claro que não havia!

Chegado ao estádio de uma viagem de +/- 10 minutos era altura de rumar à partida. Tinha um dorsal laranja que me permitia partir entre os 3:15 - 3:30. Vamos lá então.

Sol, fresquinho (7 ou 8º), sem vento, ambiente espetacular, AC/DC a tocar, VAMOS!!!! A partida foi impecável, uma avenida larguíssima permitiu aos 9000 atletas espalharem-se, passados 100 ou 200 metros já tinha metido o meu ritmo, sem confusões, empurrões ou ultrapassagens. Esta foi aliás uma constante da corrida, as avenidas largas e o correr à vontade, além de ser plana como uma folha de papel, tal como anunciado pela organização. Realmente é rápida e boa de se correr, mas tenho que dizer que fiquei um pouco desiludido com o percurso, a maior parte do tempo parecia que ia sempre na mesma estrada. Depois compensou, e bem, nos últimos 10km, já na parte antiga de Sevilha! Muito mais interessante com monumentos por todo o lado e estradas estreitas cheias de curvas. Mas mesmo sendo nos últimos quilometros, e com o pessoal muito mais disperso, houve engarrafamentos e pela primeira vez tive que variar o ritmo, por isso percebo perfeitamente a opção da organização. Realmente é a prova perfeita para bater records pessoais. 

O que não foi de maneira nenhuma monótono foi o apoio das pessoas! Passei 42km a ouvir Venga!! Vamos!! Animo!! Arriba!! Realmente não há ninguém como os espanhóis.. Lembro-me que na maratona de Lisboa ouvi carros a apitar para poderem passar!! 

Os abastecimentos foram muito numerosos, penso que a cada 2.5km. Não gostei de só terem dado garrafas de água nos primeiros 3 ou 4, a seguir eram copinhos de plástico. Não dá jeito nenhum aquela porcaria! Ah, e só houve abastecimentos sólidos lá para os 30km.. Pois, o malfadado gel!! Já lá vamos...

Bem, voltando à minha prova. Como eu disse aqui há uns posts, treinei e tinha como objectivo as 3 horas e 20 minutos. Tinha que meter um ritmo entre 4.40 e 4.45min/km, além disso queria fazer uma prova de trás para a frente. Acabar em 3:20 é muito menos importante que acabar em boas condições, por isso não quis forçar logo no inicio. Os primeiros 5km foram sem historia, a um ritmo certinho de 4.45. 

5km - Primeiro abastecimento. Águinha, isotonico, esponjas....gel - nada.
7.5km - Segundo abastecimento. Nop, nada de gel. Tranquilo, pensei eu, só o tomo aos 10km. Lá de certeza que há!
10km - Terceiro abastecimento. PORRA! Não há gel!! Tudo bem, não stresses. É aos 15! 
12.5km - NADA!
15km - NÃÃÃÃÃO!!! Pronto! Arruinei a prova! Vai ser um desastre! Doi-me o joelho! Tou com dor de burro! Tenho uma bolha no pé! AAAAAAAHHHHHHHH!!!

Foi neste estado que passei pelo nosso hotel aos 15.3km. Tinha combinado com a Sara ela estar a ver com a Mel. Estava mesmo a chegar ao hotel, provavelmente com uma nuvem negra em cima de mim, quando vejo a Sara aos saltos com a Mel dentro do marsupi.

FILIPE FILIPE!! FORÇA!!! TOMA O GEL!!!!! 

ERRO nº 6 - Não dizer vezes suficientes à minha mulher que é a melhor do mundo!

YES! Está tudo bem!! Estou salvo!!! Gel na mão, beijo na cara da miúda, tanques cheios de energia outra vez!!! Os km a seguir tive que dizer a mim mesmo para ir mais devagar, dava por mim a rolar a 4.30 com a maior das facilidades. Não há dúvida que a parte psicológica é importantíssima na maratona.

Passei à meia maratona feliz da vida com 1:40, ritmo certinho nos 4.45. Tinha que fazer uma segunda metade ligeiramente melhor que a primeira para conseguir as 3:20, mas essa era o meu plano por isso segui tranquilo. Tinha chegado até ali sem grandes problemas e os 7km seguintes foram iguais. Aumentei um pouco o ritmo sem grandes dificuldades. Cheguei então ao 28ºkm. Não foi nada de dramático, nada que se compare ao muro que bati com estrondo na minha primeira maratona, mas comecei a sentir as pernas cansadas e o ritmo cardíaco também começou a subir. Os 4km seguintes foram de descrença, não me sentia acabado mas também não estava a conseguir manter-me nos 4.40. Não faz mal, as 3:20 não caem mas fico lá perto.

Aos 32km chegámos ao parque Maria Luisa. Ainda mais gente que no resto do percurso! Milhares de pessoas! VENGA VENGA FILIPEE!!! Diziam eles! ANIMOOO!! 

Tenho que conseguir! Pensei eu. Faz-te um homem e dá às pernas, VAMOS!!! E fui mesmo! Os ultimos 10km foram os mais rápidos da prova (45minutos, segundo o Endomondo) e ao mesmo tempo os mais sofridos. Já corria só com o coração. Sentia arrepios frios em cada banho de multidão, os monumentos pareciam-me especialmente majestosos, era capaz de tudo naqueles momento! À minha volta já via atletas a alongar na berma, outros com caimbras, um sofrimento atrós e épico que só a maratona proporciona. 

A cada km que passava gritava alto quanto faltava.

8!!
7!!!
6!!
5!!!
4!!!

38km, já na isla Cartuja. Baixas por todo o lado, gente a sofrer, gente a passar pela batalha da vida deles! Que brutalidade!!!

3!!!
2!

40km! Faltam dois Filipe! Já ali está o estádio! Não custa nada!!! VAMOS!!!! (ah, é possivel que tenha dito isto em voz alta enquanto corria!)

41km!!! 

41.80km! O estádio!! O famoso tunel!!! Braços no ar, arrepio na nuca! Já não sinto as pernas! Lá ao fundo oiço música, as bancadas cheias de gente e vejo uma pista de tartan!!! Que brutalidade!!!

41.90km!! Estou na pista!!! Levanto os braços e corro a ritmo de série! 3.30! Não quero saber! Está feito!!!

42km!! Recta da meta! Onde é que está a Sara? Não a vejo no meio de tanta gente. Não faz mal! Olha o relogio, 3:19:20. 

TENS 40 SEGUNDOS! CORRE PORRA!!!!!

42.195km - JÁ ESTÁ!!! ESTÁ FEITO!!! O relogio oficial marcava 3:19:40, o do chip 3:19:02! Tinha conseguido!! Baixei das 3:20!!! 

Braços ao alto, punhos cerrados!!! GANHEI!!



Olha! Estão aqui as pernas!  Eeeeeh chegaram em grande que me doem como tudo! Baixa os braços e agarra-te aos joelhos mas é! 

Uf, que viagem. Nunca tinha sentido tanto o fim de uma maratona como desta. Talvez tenha sido do estádio, não sei. Hora da menina me por a medalha ao pescoço. Como sempre, emociono-me nesta parte. Agora é tentar deslocar-me à parte em que nos dão comidinha e água que tou que nem posso. Custaram-me mais aqueles 500m que a maratona. 

Está feito. A minha quinta maratona. Não aguentei e escrevi este testamento enquanto elas estão a descansar aqui no hotel. A Sara diz-me que isto é longo de mais, para fazer em dois posts senão ninguém aguenta. Não faz mal. Agora estou deserto para saber como correu ao pessoal dos blogs. 

Bem, é altura de ir passear por Sevilha e digerir tudo o que se passou, que é muito. Ah, por falar em digerir, vou comer tapas e beber cañas!! Adios!


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Corridas no estrangeiro em familia: o Manual


  1. Pesquisar a base de dados de amigos emigrados.
  2. Procurar maratona na cidade habitada por amigos emigrados ou, na pior das hipóteses, na região.
  3. Caso haja uma relação directa, avançar para o ponto 5, se não, passemos ao ponto 4.
  4. Pesquisar destinos das low cost que partem de Lisboa e voltar ao ponto 2 (substituir "amigos emigrados" por "destinos low cost"). A opção "ir de carro" pode ser considerada em casos muito especiais, e deve ser prioritária.
  5. Escolher A maratona, no mínimo com 7 meses de antecedência.
  6. Tratar das viagens, estadia e da inscrição na corrida (claro que em 7 ou 8 meses não vão haver imprevistos!!)
  7. Comunicar à Família que vamos passar umas férias ao destino escolhido.
  8. Comunicar à Família que, coincidência das coincidências, há uma maratona naquele sitio e naqueles dias!!
  9. Cumprir um plano de treinos de 3 ou 4 meses, e nesse período obcecar com o grande objectivo.
  10. Ponto muito importante - no decorrer destes 3 ou 4 meses introduzir frequentemente motivos de interesse à Família. 
  11. O planeamento de futuras maratonas está dependente deste ponto!
  12. Nas ultimas duas semanas analisar ao pormenor o site da corrida, não vá escapar alguma coisa.
  13. Nessas mesmas duas semanas todas as noites, secretamente, analisar o mapa do percurso. Secretamente, porque já estamos a adoptar uma série de comportamentos que roçam uma desordem obsessiva-compulsiva (também se aplica o ponto 11).
  14. Imprimir o percurso em 7 ou 8 folhas A4 para fazer uma colagem em tamanho gigante. Marcar os quilómetros todos e escrever o tempo previsto de passagem.
  15. Combinar com a Família quais os pontos onde vão estar a ver a nossa passagem (ver ponto 10).
  16. Fazer as malas. Importante, o equipamento a usar na prova deve ser escolhido pelo menos com 1 mês de antecedência! (Como assim não é importante???)
  17. Viajar
  18. Levantar os dorsais no dia anterior à prova e passar o resto do dia a passear. É provável que neste passeio surjam no mínimo 45 lesões impeditivas de correr, mas normalmente só duram 3 ou 4 segundos. 
  19. Tentar não transparecer à Família que sim senhora, a cidade é muito bonita e tal, mas eu quero saber é onde é que vou comer massa esta noite! (ver ponto 11)
  20. Explicar à Família que é do interesse de todos que nos deitemos às 22.
  21. Correr a maratona - Objectivo cumprido!
  22. Começar a preparar a próxima, ou seja, passar o resto do domingo a passear com a Família como se estivéssemos frescos como uma alface (ver ponto 11).

Este manual é infalível e à prova de tudo! 

Ah..menos aquela vez que marcámos tudo para a maratona de Roterdão e estive lesionado os 5 meses antes da prova.. Mas essa não conta!

Lembrei-me agora que "a Família" muito provavelmente irá ler este post. Se isso tiver repercussões catastróficas em futuros planos eu aviso-vos e acrescento o ponto 23 - Não colocar o Manual on-line.

(ok ok, isto é tudo treta porque a parte de passar o fim de semana com elas a passear é tão boa como correr a maratona, mas escrever isso aqui não tinha piada nenhuma..)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

É para atestar, sff.

Como qualquer maratonista auto-medicado (leia-se, sem qualquer orientação profissional), já li tudo e mais alguma coisa sobre a maratona. A alimentação deve ser dos temas mais discutidos e estudados.  Há opiniões para todos os gostos, mas acho que há uma tendência que é mais ou menos unânime: na semana da maratona há que mamar massa como se não houvesse amanhã!

Pronto, o termo técnico é fazer uma alimentação rica em hidratos de carbono, parece que isso é o nosso combustível e faz aumentar as reservas de glicogénio nos músculos (se estiver a dizer alguma barbaridade é favor emendarem-me). E mesmo nesta unanimidade há duas opiniões, uns defendem que a sobrecarga de hidratos deve ser feita toda a semana e outros só nos 3 ou 4 dias antes da prova. 

Já tentei a primeira, e não me dei bem. A ideia é esvaziarmos por completo o nosso deposito nos 3 primeiros dias da semana, ou seja, ingerir o menor número possível de hidratos, para depois, a partir de quarta feira carregar com força na massa, arroz e companhia. O problema é que não sou rapaz para andar com fome, e fiquei-me pelo primeiro dia de experiência. Cheguei ao fim do dia cheio de fome e dores de cabeça e com níveis preocupantes de rabugice. Por isso, nas ultimas 2 maratonas que fiz, o única decisão que tive que tomar foi entre carbonara e bolonhesa!

Ainda sobre a alimentação, há um pormenor que por mais que leia e oiça opiniões ainda não consegui afinar bem. O que comer na manhã da maratona? Depois de muitos testes nos treinos longos e provas, cheguei à conclusão que a única coisa que resulta a 100% comigo é 2 horas antes da prova comer duas torradas com doce de morango e beber água. Pois... é muito pouco... Tenho sérias dúvidas que seja o suficiente para enfrentar os 42km, mas ainda tenho mais medo de ter problemas intestinais. Por acaso nunca me aconteceu durante uma prova, mas nos longos é muito frequente, e acho que não é nenhuma novidade se disser que é péssimo. Daquelas coisas que estragam por completo uma corrida.

Durante a prova tenho optado pela ingestão de 1 gel sem cafeína (uso da Gold Nutrition) aos 10, 20, 30 e 35km, e se estiver muito calor levo umas cápsulas de sais para compensar a perda de electrólitos. Ah, sem esquecer a água, tento beber um pouco em todos os abastecimentos. Esta abordagem tem resultado e penso que é mais ou menos pacífica. 

E vocês, têm alguma fórmula mágica? Já agora partilhem que aqui ninguém nos ouve. Entretanto são quase horas do almoço, a sandes com queijo do meio da manhã já lá vai há umas horas e está na altura de atacar o esparguete. Toca a atestar o deposito!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

95% do trabalho



Doze semanas, 66 treinos completados em 72 previstos, 893km (media de 75km por semana). É a quarta vez que sigo este plano de treino que fui buscar aqui. Este ano a grande alteração foi o aumento da velocidade média do treino longo, passou dos 5:25 do Porto para 4:55 min/km, e ainda bati o meu record de distancia em treino, 35km. Também a velocidade das séries tem subido, mas muito mais gradualmente. Costumam ser 16 semanas, mas 3 semanas antes de iniciar foi a maratona do Porto, e duas semanas depois da maratona o ultra do Zêzere, depois ainda tive que descansar uma semana antes de começar, claro.

Pode parecer esquisito, mas gosto quase tanto de seguir um plano de treino como de fazer a maratona. Sou um bocado control freak, e tenho a sensação de que se fizer o meu trabalhinho bem feito, no dia da corrida as hipóteses de correr mal diminuem muito. Claro que há sempre factores externos, como o clima, a altimetria ou até um qualquer problema intestinal, por exemplo. Mas pelo menos fiz a minha parte, e a preparação física está lá toda. 

O meu objectivo para a maratona de Sevilha é baixar das 3:20h. Tenho medo de estar a ser ambicioso de mais, já que no Porto fiz 3:26h e os últimos 6km já foram de sofrimento, mas tenho esperança que o aumento do ritmo dos longos, assim como a distancia destes, tenham sido suficientes para aguentar um ritmo entre 4:40 e 4:45 em Sevilha. Vamos ver..

Enfim.. 95% da maratona está feita, agora é só correr os 42.195km!



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Fartlek

Sou um adepto deste tipo de treinos. Não só porque corta muito a monotonia dos treinos diários mas porque, de facto, funciona! Hoje fiz o ultimo antes da maratona. Depois do GP do Fim da Europa senti-me anormalmente cansado, por isso a semana passada reduzi a velocidade das séries e do treino longo. Pelos vistos resultou! Foi o melhor treino deste plano e deixou-me alguns sinais positivos para Sevilha, não só pela velocidade das séries mas porque nos 2 minutos a trote de recuperação entre séries baixei sempre dos 130bpm. Agora é uma semana e meia a afinar tudo para Sevilha, mas estou com boas sensações. O dorsal 2770 espera por mim :)

Velocidade das 8 séries de 3 minutos. O recobro foi encurtado, tinha que ir para casa ver o Benfica!



A mítica volta Almeirim - Frades - Almeirim
Vá...secalhar não é bem mítica...
Pronto, só eu é que a conheço...


 O tipico perfil topográfico da Lezíria Ribatejana. No fim deu um acumulado espectacular de 78m!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A Maratona

Como disse no ultimo post, nunca fui um sedentário, sempre fiz desporto. Começou com a natação. Durante toda a minha adolescência treinei diariamente e muitas vezes duas vezes por dia (tão bom que era ir para a piscina às 6:30 da manhã antes das aulas..ui!). Entrei para a universidade e ainda me aguentei a treinar sozinho durante um ano, mas depois deixei-me embeber pelo "espírito académico", a.k.a. boa vida de quem se vê de repente a viver sozinho em Lisboa, e tive um ano de excessos em que praticamente não fiz desporto. De repente dei por mim uns 10kg mais gordo e numa forma miserável, nem me reconhecia! Nunca mais fiz desporto àquele nível, mas comecei a correr uma ou duas vezes por semana. Sem grandes objectivos lá ia correndo. Participei nalgumas meias maratonas (a primeira foi em 2004, na 25 de Abril em Lisboa, demorei mais de duas horas) e praticamente todos os anos corri os 20km de Almeirim, na minha terra. Nada de sério, às vezes estava uma semana ou duas sem correr, outras corria 3 vezes, o importante era sentir-me bem comigo mesmo. Até que em 2011 li um livro chamado "A Maratona de Nova Iorque". Era uma espécie de diário pessoal desportivo de um professor universitário que, como eu, corria muito ocasionalmente, até que um dia meteu na cabeça que queria correr uma maratona! Adorei ler os relatos dele e identifiquei-me imediatamente. Tinha um novo objectivo - A MARATONA! Nesse mesmo ano corri a maratona de Lisboa e foi...bem...como é que hei-de dizer...foi daqueles momentos em que sabes que a tua vida mudou e nunca mais vai ser a mesma! E de facto foi assim.

Infelizmente as palavras não me fluem naturalmente, por isso não esperem de mim um daqueles relatos super emotivos, mas a minha primeira maratona foi realmente especial, e não sei se foi da adrenalina ou se as endorfinas ainda me corriam no sangue mas no dia seguinte à corrida procurei o mail do Antonio Goucha Soares (autor do livro) na net e escrevi-lhe a agradecer-lhe pelo papel que teve naquele acontecimento tão importante. Ontem reli esse mail e, cum caraças, está lamechas como tudo! Ora vejam:

Caro António



Peço desde já desculpa por estar a ocupar o seu endereço de e-mail  profissional com uma mensagem pessoal, mas foi o único contacto que encontrei na net.

Tal como o António também eu era um corredor ocasional. Participei em algumas meias maratonas nos últimos 5 ou 6 anos, e corria 2 vezes por semana, sem qualquer objectivo a não ser o prazer que me dá correr e a satisfação inexplicável de terminar uma prova, mesmo que já não haja muita gente atrás de mim. Apesar de ter terminado 5 meias maratonas até ao início deste ano, a ideia de fazer uma maratona completa era completamente inatingível, até absurda na minha maneira de pensar. O esforço brutal que despendia para fazer uma meia fazia-me pensar nos maratonistas como super-homens, pessoas sobredotadas geneticamente que estavam um patamar acima de todos nós.

Em Agosto deste ano li o seu livro e mudou tudo. Percebi que está longe de ser uma questão genética, que passa mais por uma vontade férrea e disciplina que são impossíveis de explicar a alguém que não passe por isto. Os seus relatos emotivos de treinos e provas inspiraram-me a iniciar uma empreitada que se configuraria como um dos maiores desafios da minha vida.

Comecei a cumprir um plano de treino, muitas vezes sozinho, e fiz a meia da Vasco da Gama e de Almeirim. Fiz os treinos longos da praxe, corri à chuva, na lama, sozinho ou acompanhado, às vezes com vontade de desistir e ir descansar. Não desisti e este domingo lá estava no estádio do INATEL.. Estabeleci um tempo final objectivo, e preparei a corrida nesse sentido.

O que se passou nas 4 horas seguintes à partida foi descrito na perfeição no seu relato da maratona de Lisboa. Tive momentos em que senti que conseguia tudo, outros que me emocionei e até bati no mítico muro. No meu caso foi por volta do km 28, chegou mesmo a passar-me pela cabeça desistir. Já depois do esforço extremo da subida Terreiro do Paço – Areeiro, vi-me no km 40 e aqueles 12 minutos finais pareceram-me um objectivo impossível. Arrastei-me por mais 1km e meio sempre a suplicar pela próxima curva. Estava quase. Foi então que passei por si na Av. Dos EUA, a puxar por nós, que nos íamos a arrastar em sofrimento. Não sou religioso, mas aquele momento foi o mais próximo que tive de um clássico “isto só pode ser um sinal!”. Lá estava o homem que escreveu o livro que me inspirou a entrar nesta aventura de uma vida, a 700m da meta, a dar-me um último empurrão. Já estava. Deixei de sentir cansaço, dores, abri a passada e cumpri a distância final. Quando entrei no estádio parecia quase irreal, podia correr mais 20km assim. Lá estavam os meus companheiros de corrida e a minha família a puxar por mim.


É disto que me vou lembrar. Destes últimos 700m.

Escrevo-lhe este mail a agradecer-lhe por me fazer ver que estão dentro de nós as capacidades para cumprir qualquer objectivo. Depois de terminar a corrida todos os meus problemas mundanos foram relativizados. Estes 4 meses de treino e 4.07h de corrida tornaram-me uma pessoa nova, espero que mais gente tenha tido a sorte de ler o seu livro e, tal como eu, se tenham sentido inspirados a entrar nesta aventura.





Aqui está o livro. Aconselho todos a ler!



Chegada em Lisboa 2012, a primeira.



Barcelona 2012 - Com a minha mulher Sara.



Lisboa 2012, com o meu amigo Rodrigo Galão que se estreou na distancia. 



No Porto o ano passado, com o novo membro da família, a minha filha Maria Amélia :)



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O quê? Mais um blog de corrida?!

É verdade... Não bastavam já os 213456 blogs de corredores amadores em Portugal, decidi criar mais um. O pior de tudo, e a acrescentar a esta monotonia de blog é que ponderei verdadeiramente se o havia de fazer ou não, e a lista de prós e contras, tendo em conta o interesse que poderia ter para outras pessoas, até me foi muito desfavorável! Ora... sou um gajo de 30 anos (nada de novo, se fosses um de 80 secalhar eras mais interessante), moro em Almeirim (o quê? não moras perto de uma grande serra onde possas fazer trails malucos ou numa grande cidade??), sempre fiz desporto, nunca fui sedentário (argh, nem uma historiazinha de conquista pessoal em que contas como emagreceste 50kg num ano??), gosto principalmente de correr em estrada (boooriiiingggg), e...e....bem, sou maratonista (eishhh mas isso toda a gen...quer dizer..nem toda a gente...vá, isso até é fixe, avança lá com isso do blog).

É verdade, sou maratonista. Sim, o titulo do blog secalhar já me tinha denunciado. Fiz a minha primeira maratona em Lisboa, no ano de 2011, e de lá para cá já fiz outras 3 e estou prestes a começar a 5ª, em Sevilha. Vou guardar a conversa da maratona para outros posts que não vos quero chatear já. Continuemos com a apresentação do blog.

Ora bem, estabelecida a justificação para a criação disto, acho que é de bom tom esclarecer o que para aqui vou escrever. Ui, e se a lista é original! Vejamos: descrição de provas, treinos, equipamento, objectivos, falhanços, conquistas, viagens, opiniões, etc. Pfff, espectacular, nunca ninguém se tinha lembrado disto!

Enfim, é provável que venha a ser o único leitor destes textos, mas também não faz mal. A verdade é que gosto de escrever, ah, e não sei se vos tinha dito, mas gosto mesmo de correr! Gosto de falar e ler sobre corrida. Estou farto de chatear pessoas que não se interessam minimamente por corrida com conversa sobre...corrida! Penso que essas pessoas também estarão um pouco saturadas. Sigo muitos blogs de corrida e gosto deste ambiente de comunidade, quase família, que se está a formar entre os atletas de pelotão/bloggers. Desculpem lá  mas vou tentar intrometer-me :)


Até ao próximo.